O que faz a árvore, o que faz o vento, o que faz eu me perguntar essas coisas?
- Lá.
Vê: aquela árvore, lá, se movendo.
Vês, vendo?
Parece coisa de sonho, não é? Aquela árvore longe, no horizonte se movendo.
O que move a árvore?
Para isso a gente tem uma resposta humana na ponta da língua: o vento. Outro Verbo.
Mas, ah, o que sopra o vento?
Para isso, eu não tenho a resposta.
Tu tens?
Ninguém tem, te digo.
É o Isso, o Aquilo, o Sem Nome,
e de onde vindo ninguém sabe, pois só sabemos que ao chegar aqui vai logo se escondendo de nós sob muitas formas, as Várias: aves, estrelas, insetos, peixes, e de vento vento
Pois se até sob a forma humana se esconde, em nós.
E se aquela árvore, lá, parar de se mover?
Para onde terá ido?
Diz-se disso: o vento sopra em toda parte, o vento: o Vento.
Da minha boca, agora mesmo ele está soprando para ti sob a forma destas palavras, onde também está e se mantém, escondido. Abro a boca, sopro um pensamento, e eis: ele aparece, mas desaparecido, pois só percebes as palavras.
Ouve, assim, com a tua mão roçando a minha boca.
É a voz do vento das palavras.
Sentes?
Ah, olha: agora a árvore parou de se mover.
Vês? Não-vendo¿
Ele terá ido embora dela, ou se mantém lá, nela, até a próxima brisa, ventania, sopro disso que nos sopra? Escondido¿
São muitas as perguntas que nos fazemos só de olhar as coisas, não é?
Então, essa que eu me faço agora: esse vento que sopra pela minha boca sob a forma das palavras com que estou te perguntando isto: ele é o mesmo vento que, antes, soprava lá aquela Árvore, longe, no horizonte, e agora veio soprar em mim, através de Mim?
Pudesse, pois se Isso sopra os ventos um só, se dispersando em vários istos, vários ventos, peixes, homens
Ou será que depois que deixa de ser o Isso ele é, em cada isto, um Isto que não se compara a nenhum outro?
Então, são muitas as perguntas que fazemos a elas, sós, olhando as coisas
As Coisas.
Elas, de Lá, nos olhando.
Aqui.
E aqui: um tU e um eU. Peixes homens
Ah, somos mesmo dois homens conversando, ou só um? O Mesmo.
O Um¿