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domingo, 31 de março de 2013

DIÁRIO D oO LIVRO INVISÍVEL: PASSO EM SONHO Vicente Franz Cecim

DIÁRIO D oO LIVRO INVISÍVEL: PASSO EM SONHO Vicente Franz Cecim:   A Construção de Carne está nas Trevas e um Silêncio Branco ressoa em toda parte: o Ausente permanece o que deixam seus Oss...

PASSO EM SONHO Vicente Franz Cecim

 



A Construção de Carne está nas Trevas

e um Silêncio Branco


ressoa em toda parte: o


Ausente
permanece


o que deixam seus Ossos com sons de flauta
para a Música


e o Vento da Vida




Nós não somos um cortejo de Ruínas
nós não somos Nós


não somos os que vieram atrás do Manto
revestido de algas
celebrando o Encanto e o Musgo
que a Água dos Olhos não lava Nós
não permanecemos

indistintos


na Paisagem dos Crepúsculos Nós não

tememos


a nossa Fome das Auroras
nossa embriaguês de Vinho Pálido


enquanto passamos, e passamos,


exatamente


Agora

quarta-feira, 13 de março de 2013

DIÁRIO D oO LIVRO INVISÍVEL: SILENCIOSO COMO O PARAÍSO

DIÁRIO D oO LIVRO INVISÍVEL: SILENCIOSO COMO O PARAÍSO: Festa dos cabelos trançados VICENTE FRANZ CECIM                                          IMAGEM Bruno Cecim     Dos ad...

SILENCIOSO COMO O PARAÍSO

Festa dos cabelos trançados

VICENTE FRANZ CECIM



                                         IMAGEM Bruno Cecim






    Dos adormecidos, todos, então começaria a vir o mesmo som de águas, redemoinhos, que viera da criança.
    Era a carne talando neles, agora só a carne estando todo o resto adormecido?
    Se pudéssemos ouvir o que a carne tinha a nos dizer naquela casa
    Ouviríamos:
    Os sons de águas se transformavam em vozes nos adormecidos.




    Fomos aqueles que primeiro uivou para ti,
    e na primeira noite, o que primeiro riu nos tempos
    Fomos os nossos arrependidos ossos curvos
    pois tu trituras amorosamente o que conténs,
e incontida

     Silenciosos sob o silêncio da erva: sensíveis
     à dor e à tua erva

     Silenciosos até a altura dos ramos voltados
     para a nascente, grande é a Face que te espia da
 outra margem

     Pois se das coisas temos um sol tombado, e a descida
     sombra
     e o canto aviltado da voz rouca,
     e ainda os olhos da primeira vez
     da primeira, ó inesquecível
     e sem podermos ver

     deitados sob o silêncio da erva, e sensíveis ao que fomos
     Ao uivo aos ossos à face à erva



     Novo silêncio. E o canto:



     Pelos tempos e as geleiras,
     animais fizeram a curva luminosa do teu dorso

     Verão sobrenatural: não damos um passo
     sem a tua companhia

     Pelo espesso: dele a espessura se desprende
     na forma dos cheiros selvagens que tanto
     nos empalidecem à noite:
     cada um de nós é um clarão visto à distância

     Tu és o escândalo do deus que se desfez
     do lado mudo dos seus gonzos. E se abres
     a porta escura deste ombro,
     fatigados pelos campos
     semeamos nossos ossos mais humanos
     nos lugares onde tivemos lábios e ressecam da oração



     O canto: isso nos invade, quer nos habitar pelos ouvidos para sempre

     Pois tua é a sombra e a Sombra

     e na areia
     a reunida areia, a carne

     E a concebida asa,

     e na areia ainda a reunida asa de areia


                                                             Iluminuras, São Paulo, 1995



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

DIÁRIO D oO LIVRO INVISÍVEL: X Asa de murmúrios

DIÁRIO D oO LIVRO INVISÍVEL: X Asa de murmúrios:   VIAGEM A ANDARA oO LIVRO INVISÍVEL  II foi no Tempo foi no Tempo, um Lugar, onde estive centro, para os Repousos humanos Madeir...

OS DIAS CONSAGRADOS Vicente Franz Cecim/Imagens: Goeldi




na via Lenta





este é o caminho das

Grades,
e ouves no fundo da Terra portões de ferro voltando ao pÓ,

como tu



Mas Tu não cumprirás toda a Profecia



Afinal,
não chegaste pela rua da tua Infância? N
ão tropeçaste na porta da Sede e a Água te ergueu?

Não testemunhas o regresso das árvores em Sonhos




e
não passa Dentro de ti
a Outra via?


leve



Que
leva
à Leveza invisível




a Residência entre Clarões está nas cinzas





Agarrado ao teu Tronco,

como não lamentarias a queda dos Frutos?


Perdido de Ti,

como colherias a Semente
no ar

e a semearias nas noites da Fadiga?



Para isso: ouvir
Aquilo que chama na Sombra


Para aquilo, ver
Isso: o Anel de Luz

na noite que mais pede sacrifícios à Aurora dos Destinos

ao passo

mais fiel ao caminho para a casa tombada,   Lá: onde a Curva
no horizonte
oferta a Esfera     ao fechar dos Círculos


à água de murmúrios dos Teus Olhos


À Asa murmurante que não pousa




Celebração das noites fatigadas



há Desesperos circulares, Tu sabes desesperos

como o do animal no Escuro    escuro

Girando

contido no Centro que seu  giro gera



E a cada giro, Pura
emissão de intensidade busca as margens para Além das margens

E a cada giro, o Não
Escrita de grades: a palavra Dor não é a palavra Sim




Mais um giro, e eis: a Queda

Luz fenecendo

Oo

Centro que des
morona, des
falece em centro




E se esmorece

o Desespero, e se
se apaga: Se sob a pele Negra olhos se ocultam,


na harpa de grades a pausa é breve e não há Música


pois foi escrito no Bosque Sem Ternuras, em nossa Face: Que os olhos que uma vez se fechem outra vez se abram,


e eles se abrem,

Cílio sem paz se


acende o Desespero



e Testemunha: as Grades permanecem Lá




E

se adormece para os Sonos dos Alívios? Sem

remédio Sem
remédio,

porque sonha Grades





ah, tudo oculta em sonhos a Catedral de cinzas




as Margens

o Círculo



e a chave perdida





Animal escuro, 

te tornaste o próprio Centro escuro




Tece teus cílios de Hera sagrada

Cintila


 nas noites Sonha


com a Alvura




Não sabes que Outro centroO

te Ilumina,


mais Escuro?





há Desesperos circulares, Tu sabes






Caminho dos corpos lentos




E o Céu? Se
pergunta a Terra,

enquanto desces ao encontro do Teu Centro


eis: a espreita do Suspeito de Si Mesmo

Eis a Penumbra da Água em silêncio
Na Fonte,
não são Longos os peixes que te incineram

Ainda uma vez um Sim de pedra
se ocultou

na Noite,


e enquanto tombas vais lembrando que Não És


  
  
a parte dos Dons





mas





Se

nutrires em Ti
 a Metamorfose da Esfera,




ouve e Celebra o teu rumor de Hera

  
  
H




e



} quando o Silêncio horizontal se disser, te despindo, o Fulgor que És

e tudo em círculos vagando sobre a Esfera vier se Delatar a ti como
Máscara para esmagamentos > a horda escura e a História
e o ir e o ir e o ir dos frutos retornantes às sementes

mas não
o Vir
da Semente ao Fruto que nós chamamos Vida



e

quando na Clareira, Nu
testemunhares o desabrochar da Hera


#




Então

} haverá um dia seguinte

E nesse Dia
Manhã do Caminho sem caminhos,
despertando

abrirás a porta da tua casa

e verás


a Constelação Sem Centro



Porque o Centro tombou sem rumor toda a Noite para a Terra



Estás outra vez na rua onde passou por ti a Vertigem, a Tua Infância




E agora } o Centro

És Tu

O escritor e cineasta paraense Vicente Franz Cecim é uma singularidade na literatura contemporânea, um dos poucos no mundo - não só no Brasil - que ainda permanecem fiéis a uma ideia de literatura como gesto elevado, animado por um insaciável desejo de ir além. Cecim, na linha dos grandes mestres do fazer que transcende especificações estéticas simplistas - Platão, Goya, Bach, Novalis, Hegel, Mallarmé, Rosa -, dedica-se há décadas a escrever uma única obra, Viagem a Andara: oO livro invisível, de que fazem parte movimentos poético-narrativos belíssimos, como Ó Serdespanto, publicado pela Íman em Portugal em 2001 e pela Bertrand Brasil em 2006, e oÓ: Desnutrir a pedra, publicado pela Tessituras em 2008. A viagem desse extraordinário criador a Andara começou, precisamente, em 1979, quando publicou, na sua Belém, onde vive, A asa e a serpente. Os fragmentos aqui publicados, cedidos com exclusividade pelo autor  - que integrará o Conselho Editorial de Orobó impressa e digital - fazem parte de Vozes de Andara, criação in progress do infinito Livro (In) visível. As gravuras são de Oswaldo Goeldi (1895/1961), que, nascido no Rio de Janeiro, viveu até os seis anos de idade na cidade de Cecim antes de seguir para a Suíça, terra do seu pai, retornando ao Brasil em 1919. REVISTA OROBÓ/http://www.revistaorobo.blogspot.com.br/2013_02_05_archive.html