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sábado, 30 de junho de 2012

IX Corpo nu da Demanda profunda VICENTE FRANZ CECIM










NO BEIJO HUMANO
Terra, Magritte







Tomba,

quando virá à Tona coberto de Cinzas

quando dará às Fontes suas mãos de Encantos em ruínas até
à Seca folha lágrima Raiz da Desfolhada não nascida

quando dirá ao outroO
nascendo do seu Lado Esquerdo com a ferrugem
das Catedrais partidas
- Busca

O ourO Escuro


para onde, para onde


Irá
indo,
indo

com sua imortalidade de lençóis de Alvura: O naufragado em terra,
caminhando sobre águas brancas que não vê


de despedidas de reencontros de Trevas murmurantes
Pedra de Queda como um fruto: o Fruto O

que alcança a outra margem: Oo

Fervor de Limo
Levanta vôo para baixo


Quando obterá a recusa da Envolvente?

e o Não lhe será um Dom
de Indiferença

que poupará, por Desprezo
que poupará, pelo silêncio
















O BEIJO DAS NEBULOSAS
Cosmos,  Hubble

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Bem-vindo ao estranho mundo




VIAGEM A ANDARA oO LIVRO INVISÍVEL
De Ó Serdespanto




















Em algum lugar do estranho mundo
mãos se tocam em silêncio branco
Ah o encanto da carne

quando esquecida é a existência do deus
que causa a dor

Uma ave vai pousando em seu ninho,
traz nos olhos os espantos do dia que se acaba, se acaba

Mas a tarde nos serena, com a promessa
de que logo vai anoitecer
para novamente nos tornarmos sombras, nos tornarmos sombras,

nos tornarmos sombras

Devolvidos aos ninhos escuros, escuros, escuros


Ah como nos assusta caminhar sob um sol 
A este lado da esfera
ainda não veio o tempo do repouso  A terra geme,
a fatigada, fatigada

Os homens nos caminhos do crepúsculo da raça

perderam seus olhos
nos cílios pesados de bronzes antigos  As estátuas com nódoas de vergonhas,
a vergonha, a vergonha 

Nunca mais tu ouviste
o sino que chamava os gestos brandos do fundo
do templo

Ah a sina
do efêmero encarnada em tudo que se move
à nossa volta
Mas tu ouves num inseto de outono o Inseto
do outono
As folhas que se fecham sem desprezo

Num ramo que se parte e cai sozinho,
nenhuma força negativa pousou neste inverno

No estranho mundo, alguém está deixando
o pequeno porto
em seu leito de morte,

e isso nos faz mais lentos do que o cedro transformado em leito macio

porque de madrugada alguém, que será outro,
acaba de nascer na casa verde ao lado

Ah o ir e vir dos viajantes pelas estrelas, as estrelas,
as estrelas
Como tem poder um gesto
branco branco
quando vêm do fundo na noite os silêncios
em que nasce a flor a rubra da ternura
  
À noite a noite a noite

banhará as frontes que sonham serenas o sereno
Um cão se encosta ao dono
e ao seu odor humano

Ah como é lento este aprender a semelhança

entre a pata do animal e o gesto humano

Misteriosa, uma estrela agora desce sobre o bosque
dos destinos
A filha dos pântanos se agasalha em folhagens negras
O sol tem um ritmo de sangue,
anunciando um novo despertar do mundo

Ah como renasce este outro lado da terra, a dourada, para a luz
Um emblema de paixão te é dado a cada dia
E o vinho está servido nos sentidos

para ser bebido por aqueles que tiveram as suas mãos feridas, feridas,
as feridas


Claro e escuro é o mundo
Claro e escuro é o mundo


Ah o espanto daquele que desperta após um breve sono  O anjo, em ossos
e sangue
Se adormeceu no fim da tarde
e abre os olhos na penumbra
que não sabe
se anuncia um anoitecer de pedra
ou ainda a areia as auroras da vida

Por algum tempo, permanece mudo
E não pode se dizer o que virá depois, se luz, se treva

         
Ah a garganta quando quer cantar uma canção de pura luz

Ah o irmão perdido  Ah a voz que prefere calar
diante do crime do irmão 


Em algum lugar do estranho mundo
mãos se tocam em silêncio branco,
olhos se olham em virtude azulada,
peles se roçam na intimidade dos amigos

Ah os ninhos que se constrói com o afagado
e o murmurado

Quem são aqueles dois que agora cruzam a ponte

entre suspiros e brumas,

ignorando o cão de ferro que late em seus calcanhares

Levando um peixe de ouro, o pescador de sonhos
Ei-lo que vai voltando para o recanto do estranho mundo onde ergueu sua casa
de palha e centelha convivendo em paz

Ah a ave distendendo as asas
no amanhecer do ninho, o ninho
para reiniciar a aventura da leveza

Como é leve esta pedra no caminho

Como é longo o culto à árvore
em que se enterram as raízes da família
e o choro da criança pela primeira vez

Não tires a tua mão da claridade

da minha mão cansada que repousa em ti,
para ocultar na sombra

Ah

não esperes o receio
para te abrigar em meu peito, diz a voz branda
e longe uiva a fera do adeus

Quem são aqueles que atravessam a ponte
sem temer o cão de ferro, a vida
E por que ainda está ausente o peixe

As planícies de escamas, ao longe, ao longe ao longe Mais uma estrela
caiu dos teus olhos

Ah os que caminham juntos sobre as águas
e a paciência do homem com a madeira
para fazer a casa e a cama

onde o recém-nascido acaba de chorar pela primeira vez

enquanto a vida também constrói para ele
uma ponte
e um latir de ferro em seu calcanhar
apontado para o céu,
enquanto o sangue verde lhe desce à cabeça
enquanto o olhar da mãe de lábios lívidos

Ah o nome que daremos a tudo isso
que nos envolve,

e que chamamos vida,

quando voltarem os tempos perdidos
ao regressarmos aos ninhos de verão,
dois a dois
atravessando a ponte,
pisando as marcas dos passos dados pelos anos puros


Aquela que tece a lã generosa
  
porque crê no balido do amigo,

ah
como a chamaremos depois que cessar nosso primeiro choro
e a Casa ao lado for a nossa casa?


Ah o encanto da carne

quando é esquecida a existência do deus
que causa a dor

Ah o encanto da dor
quando esquecida é a existência do deus

que causa a carne



Mãos se tocam em silêncio branco

em algum lugar do branco e estranho mundo